Bombeiros buscam certificação de cães para a Copa de 2014

11/06/2012 17h38 - Atualizado em 11/06/12 17h38


Além da qualificação de seus mais de 5 mil homens, o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) já investe no reforço do treinamento do Grupo Especializado de Busca e Salvamento com Cães de Resgate para atuar na Copa do Mundo de 2014. Uma comissão da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) será responsável por validar a participação dos animais que estarão prontos para atuar nos locais onde acontecerão os jogos e eventos relacionados ao mundial.

Outro objetivo da corporação é conseguir, também, a certificação dos animais junto à Organização Internacional de Cães de Resgate (IRO), com sede na Áustria. O regulamento da entidade segue os padrões da Organização das Nações Unidas (ONU) e habilitará os animais para atuar nos desastres e catástrofes em todo o mundo. Para conseguir o “passaporte” para o maior evento mundial de futebol, os cães serão avaliados em quesitos como: obediência, controle e busca em escombros. A participação do Grupo Especializado na Copa inclui, ainda, a coordenação de uma capacitação para 30 adestradores dos Corpos de Bombeiros do Distrito Federal, Amazonas, Mato Grosso e Minas Gerais. O curso está previsto para ser realizado no ano que vem.

Na sede do canil, no bairro Saudade, região Leste de Belo Horizonte, a expectativa é grande na preparação dos “alunos”: Ebony e Fran, duas cadelas da raça labrador – com idade de quatro anos, além de Índio, Kira e Beny, filhotes de pastor belga mallinois, com 10 meses. “Após a certificação da Senasp, nossos cães estarão oficialmente aptos para atuar no mundial”, explica o sargento Edmar Carvalho, subcomandante do canil.

Segundo ele, o processo para que um cão torne-se apto a executar as missões começa com uma avaliação onde são testados critérios como impulso exploratório, que é a capacidade do animal em explorar o ambiente, autonomia e boa socialização. O “teste de fogo” dos animais inclui colocá-los em contato com algumas situações como barulho de sirene, subida e descida de viaturas, embarcações e até aeronaves para que ele se familiarize com o ambiente em que irá atuar. Parte dessa avaliação também é feita a partir da experiência e da sensibilidade de cada adestrador. “Para a Copa do Mundo e outros eventos, estamos apenas reforçando as atividades com os cães, uma vez que eles já atuam em ocorrências em todo o Estado. Esta será mais uma missão e iremos cumprir prontamente”, diz o subcomandante.

Socialização

Apesar de unidos por uma missão em comum, os cães, que fazem parte do efetivo do grupamento, tem histórias diferentes. As cadelas Ebony e Fran foram doadas pelos próprios bombeiros. Índio, Kira e Beny foram adquiridos de uma mesma ninhada, da cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, ao preço médio de R$2,5 mil.

O subcomandante explica que a compra é a melhor opção porque alguns cães recebidos em doação chegam com traumas adquiridos, o que dificulta o processo de adestramento que dura, em média, um ano para que o cão esteja em condições de atuar em ocorrências. Ele explica que as fêmeas são mais fáceis de lidar, já os machos, apesar de requererem mais experiência do treinador, apresentam maior versatilidade no desempenho da função.
Depois de adestrado, o cão permanece na atividade operacional, em média oito anos. Durante esse período, recebem alimentação adequada e passam por inspeções periódicas com veterinários que avaliam o estado de saúde do animal e para que ele esteja sempre pronto para as missões. No final da carreira, eles são doados para seus adestradores.

O trabalho de preparação do animal é lento e progressivo. Com sete meses de treinamento, o cão Índio já está apto a realizar buscas, mas, ainda, não foi empregado oficialmente em ocorrências reais. Sua “estreia” deve ocorrer no final do ano, quando terminará o treinamento básico que é dividido em etapas. Na primeira delas, o cão é “socializado” com pessoas, cães e outros animais, para que não ocorra o “arrastamento instintivo”, quando ele corre sem controle quando avista uma pessoa ou um objeto.

Na segunda etapa, o cachorro é estimulado a estabelecer uma ligação com algum objeto, no caso, uma bolinha de borracha e aprende a buscá-la toda vez que ela é lançada a uma distância. Nesse ponto, é importante a criação de um vínculo forte entre adestrador e animal, o que contribui muito para um resultado mais rápido e satisfatório. De acordo com o sargento Carvalho, um cuidado que se deve ter é o de não deixar o brinquedo com o cão fora dos momentos de treinamento para que ele não se acostume com o objeto e passe a não responder aos comandos.

Após isso, o cão é condicionado a emitir latidos para ganhar a bolinha. Nessa etapa, acontece a introdução de um “dublê” que vai assumir todas as posições em que uma vítima real poderia ser encontrada, de pé, deitada, etc. O cão deve latir de forma tranquila e amistosa mantendo distância segura para que a vítima se sinta segura e não ameaçada pelo animal. No caso de localização de vítimas ocultas, um bombeiro fica escondido dentro de uma caixa e o animal é estimulado a encontrá-la pelo faro. Além do carinho e da confiança entre adestrador e animal, o método se baseia no estímulo à motivação do cão. “Damos a ele muita autonomia. É ele quem cria a sua estratégia de ação. Isso aumenta o seu poder de concentração”, explica o sargento Carvalho.

O animal também aprende a localizar vítimas em matas e em áreas colapsadas, ou seja, de terremotos, desabamentos e soterramentos. Vencida esta etapa, o animal está pronto para iniciar a localização de cadáveres em matas e escombros. O cão torna-se, dessa forma, apto a atuar em diversos tipos de ocorrências, um diferencial em relação à Europa, onde cada cachorro cumpre apenas um tipo de missão.

Vocação

Dedicação e vocação. Ingredientes básicos para um adestrador de cães, com uma missão tão importante. No canil do Corpo de Bombeiros, estão lotados, atualmente, dois sargentos, um cabo e dois soldados, liderados por um tenente. “Como a atividade requer muita ação, condicionamento físico tanto do bombeiro quanto do cão é fundamental”, lembra o soldado Waldemir, também conhecido como Haiti por ter ficado de prontidão com os cães, após acionamento para ajuda às vítimas do terremoto naquele país, em 2010. A equipe não chegou a embarcar, mas rendeu fama ao cão e ao seu adestrador.

Outro segredo é tratar o animal com atenção, carinho e respeito, cuidados que o sargento Carvalho adota desde criança, quando descobriu a vocação para lidar com os animais. Fã dos seriados Rin-tin-tin e Lassie, com sete anos de idade começou a “brincar” de adestrador, em Juiz de Fora/MG, sua cidade natal. A brincadeira se tornou profissão em 1994, quando ingressou na Polícia Militar de Minas Gerais e mais tarde, em 2004, no canil do Corpo de Bombeiros. Para o soldado Leon Souza, 23 anos, o mais “moderno” da turma, a principal característica de um adestrador é ter afinidade com o cão. “Tem que gostar do trabalho porque não é uma atividade fácil, mas vale a pena”.

O currículo dos “cães bombeiros”:

– Buscas ao corpo da modelo Eliza Samúdio (caso ex-goleiro Bruno), no Parque Lagoa do Nado, em 2008;

– Localização de cadáveres na enchente do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, em 2008;

– Atuação nos jogos Panamericanos, Parapan e Campeonato Mundial de Judô, no Rio de Janeiro, em 2007;

– Acionamento para atendimento no terremoto de Lima, no Peru, em 2007;

– Acionamento para atendimento no terremoto do Haiti, em 2010;

– Atuação em ocorrências em todo o Estado e também demonstrações em eventos e escolas.

11/06/2012

Fonte: Assessoria de Comunicação Organizacional – CBMMG

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