Caso Sion (crime da degola): mais dois são interrogados

29/09/2010 12h12 - Atualizado em 29/09/10 12h12
Foram interrogados hoje no Fórum Lafayette mais dois dos acusados no processo referente ao homicídio de dois empresários mineiros, em abril deste ano, no bairro Sion. Depuseram o policial militar A.L.B.S. e o estudante A.S.L. Os interrogatórios foram realizados no gabinete da juíza sumariante, em substituição no 2º Tribunal do Júri do Fórum Lafayette, Maria Luiza de Andrade Rangel Pires. 

O policial militar foi o primeiro a depor e negou ter participado do crime. Disse que foi contratado como motorista de F.C.F.C. para revezar com R.M. e receber R$ 100 por dia. Durante o tempo em que ficou no apartamento de F.C.F.C., não teria visto as vítimas nem presenciado nada que pudesse despertar desconfiança. Na semana do crime, teria conhecido os acusados G.C.F.C., A.G.G. e A.S.L. Após deixar F.C.F.C. em seu apartamento depois de um jantar, teria ido para casa e de lá teria saído novamente para buscar sua filha em um show de axé no Mineirão. 

A.L.B.S. revelou que no dia seguinte voltou ao apartamento de F.C.F.C., pois havia sido convidado para um almoço que seria oferecido a amigos. Afirmou não ter presenciado nada de estranho, nada que indicasse que o apartamento teria sido lavado. Todos os presentes (F.C.F.C., A.G.G., A.S.L., S.E.B. – pastor que o policial teria conhecido naquele momento – e R.M.) estariam se comportando normalmente. Nesse dia, sábado, teria permanecido no apartamento até 17h15, quando teria saído para buscar sua filha no Mineirão novamente. 

O policial afirmou que só voltou ao apartamento de F.C.F.C. na segunda-feira, quando levou-o a algumas agências bancárias. A juíza questionou o depoente sobre o fato de ele sempre sair com F.C.F.C. e R.M. apesar de ter sido contratado como motorista para revezar com este último, mas o interrogado disse não entender o motivo pelo qual F.C.F.C. agia dessa forma. A.L.B.S. disse que soube do crime pela mídia e resolveu procurar a polícia para prestar esclarecimentos sobre os fatos com os quais nega envolvimento. 

Depoimento de A.S.L. 

A.S.L., o segundo a depor, confirmou sua participação nos crimes, mas contestou parcialmente a denúncia do Ministério Público. Disse ter conhecido F.C.F.C. na faculdade de Direito. Contou que prestava serviços jurídicos nos negócios dele, como na agência de publicidade, na clínica médica, na venda de imóveis. Disse que conheceu outros réus (G.C.F.C., R.M., A.G.G.) e algumas das testemunhas através dos negócios de F.C.F.C. 

O réu afirmou que, certa vez, F.C.F.C. pediu-lhe que analisasse documentos de um lote em Santa Luzia que ele compraria do acusado A.G.G. O valor obtido com a venda seria usado por A.G.G. para viajar aos Estados Unidos. 

De acordo com o interrogado, F.C.F.C. posteriormente manifestou a intenção de contrabandear e, para executar seu plano, pretendia sequestrar uma pessoa que lhe forneceria as informações necessárias. A.S.L. disse que ele e a médica G.C.F.C. foram pressionados por F.C.F.C. a participar do negócio ilícito, mas responderam que não aceitariam se envolver de maneira nenhuma. F.C.F.C., segundo o depoente, disse que a atividade seria divertida e teria o apoio da polícia, devido a suas relações com o policial militar R.M. 

A.S.L. contou ainda que, na quarta-feira da semana do crime, 7 de abril, foi ao apartamento de F.C.F.C. para emitir os recibos da venda do lote de A.G.G., um deles em nome do próprio A.G.G., outro em nome de um genro deste último, o empresário R.S.R. Quando A.G.G. e R.S.R. chegaram, F.C.F.C. teria chantagedo o empresário, que estaria sob a mira do revólver de R.M., dizendo que o empresário iria colaborar com ele “da melhor ou da pior forma”. O depoente disse que, ao perguntar para A.G.G. o que estava acontecendo, este respondeu que tinha ido lá apenas para receber o dinheiro da venda do terreno. 

O interrogado disse que, quando G.C.F.C. chegou, ele se aproveitou da situação para sair do apartamento. Ele teria pensado em denunciar o que tinha visto, mas disse temer pela reação de F.C.F.C., que já demonstrara ser uma pessoa agressiva. 

Na quinta-feira, 8 de abril, F.C.F.C. teria pedido, por telefone, que A.S.L. fosse a seu apartamento, pois precisavam conversar. O depoente contou que, ao chegar lá, estavam presentes G.C.F.C, a vítima R.S.R. e F.C.F.C. Este o ameaçou, dizendo que, se A.S.L. não o ajudasse, iria “cortá-lo em pedacinhos e jogá-lo na Várzea das Flores” e que não estava brincando. F.C.F.C. teria afirmado ainda que estava tudo sob controle, e a vítima estava lá porque iria trabalhar para ele. 

A.L.S. contou que cumpriu as ordens de F.C.F.C. porque foi ameaçado várias vezes e presenciou seu relacionamento com policiais. O depoente confirmou que esteve presente no apartamento do bairro Sion durante os assassinatos. Apesar de não ter visto o assassinato dos empresários, foi forçado a ver o corpo de um deles caído no quarto. Nesse momento do depoimento, A.L.S. se emocionou. Ele revelou ainda ter ouvido toda a movimentação que resultou na morte de R.S.R. 

A.S.L. disse ter sido forçado a levar F.C.F.C. a uma estrada em Nova Lima, onde os corpos foram descartados, levando galões de combustível em seu carro. O depoente também contou que foi “convocado” a voltar ao apartamento no dia seguinte ao crime. Lá teria encontrado os policiais, o pastor, a médica e o norte-americano. Todos teriam limpado o local a pedido de F.C.F.C. Ele acrescentou que F.C.F.C. demonstrava tranquilidade e até alegria. 

No dia seguinte, A.S.L. teria evitado atender as ligações de F.C.F.C. O depoente disse que o atendeu na segunda-feira, e F.C.F.C. pediu-lhe que fosse buscar documentos para um outro negócio que o depoente estava assessorando. Nesse dia, A.S.L. foi preso na porta do prédio onde o crime ocorreu. 

A.S.L. afirmou também que F.C.F.C. chegou a ameaçá-lo no dia em que foram levados para o Ceresp, no momento da revista, mesmo estando diante de um agente penitenciário. F.C.F.C. teria dito para ele mudar suas declarações e negar todos os fatos. 


Próximos passos 

O próximo passo do processo é a apresentação, em cinco dias, das alegações finais pelo Ministério Público. Em seguida, as defesas dos três interrogados até o momento também têm cinco dias para apresentar suas alegações. Então será decidido se A.G.G., A.L.B.S. e A.S.L. serão julgados por júri popular. 

Até hoje foram realizadas seis audiências para a instrução do processo. Foram ouvidas 11 testemunhas de acusação, 24 de defesa e os acusados A.G.G., A.L.B. e A.S.L. As últimas testemunhas de F.C.F.C. e R.M. serão ouvidas por carta precatória em Salvador/BA e Sabará/MG, respectivamente. 

Na última audiência, em 23 de setembro, a defesa de F.C.F.C. ajuizou um pedido de incidente de sanidade mental. Com isso, o processo em relação à F.C.F.C. foi desmembrado dos demais e está suspenso. O seu interrogatório só será realizado após o julgamento do incidente. 

O advogado de R.M. insiste na oitiva de sua última testemunha de defesa, antes do interrogatório de seu cliente. A oitiva dessa testemunha depende de carta precatória para a comarca de Sabará e, somente após o retorno dessa precatória, R.M. será interrogado. 

Denúncia 

O Ministério Público denunciou as oito pessoas como incursas nas sanções dos artigos 121, §2º, incisos I, III, IV e V (homicídio qualificado), 148 (cárcere privado), 158 (extorsão), 211 (destruição e ocultação de cadáver) e 288 (formação de quadrilha). Em caso de condenação, os crimes serão punidos na forma dos artigos 29 (que prevê a condenação também para aqueles que participam do crime) e 69 (que prevê a aplicação acumulada das penas em caso de prática de mais de um crime), todos do Código Penal brasileiro. 

Estão presos preventivamente F.C.F.C., A.G.G., A.S.L., R.M. e A.L.B.S. Os acusados S.E.B., L.A.S.B. e G.C.F.C. estão soltos. 


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