Bate-papo orienta servidores sobre comunicação-não violenta

24/03/2023 15h59 - Atualizado em 27/03/23 12h31

Muito se tem falado nos dias atuais sobre a chamada comunicação não-violenta, uma forma de comunicação atenta não só ao que se fala, mas em como se fala e de que forma se posiciona a acolher o próximo, com suas demandas pessoais e específicas. O conceito pode e deve ser aplicado também no ambiente corporativo, onde relações interpessoais podem criar ruídos na comunicação e, em alguns casos, levar a situações que podem ser interpretadas como assédio. Para orientar sobre o tema, a Comissão de Prevenção e Enfrentamento do Assédio Moral e do Assédio Sexual da Justiça Militar do Estado de Minas Gerais promoveu o evento “Como estamos nos comunicando? – Bate-papo sobre comunicação não-violenta”, na tarde de quarta-feira, 22, voltada ao seu público interno de magistrados, servidores e colaboradores. A palestra foi uma introdução a um minicurso sobre o tema, que será ofertado em abril.

“Sou um grande entusiasta da comunicação não-violenta e reputo esta palestra como sendo de muita importância. O Brasil ainda tem muito a aprender e a implementar a comunicação não-violenta em suas práticas nas instituições”, analisou o desembargador Fernando Armando Ribeiro, presidente da Comissão, dando as boas-vindas à palestrante convidada, Mayara de Carvalho Siqueira. “Tenho certeza que muitas pessoas vão sair dessa palestra mais tocadas sobre a importância da comunicação não-violenta, e esse curso de abril vai ser um sucesso”, ressaltou o desembargador.

Mayara de Carvalho Siqueira é doutora em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com pesquisa em Justiça Restaurativa Comunitária; pesquisadora de pós-doutorado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj); membro da Comissão de Justiça Restaurativa do Fórum Socioeducativo de Belo Horizonte e autora do livro “Justiça Restaurativa na Comunidade” e do livreto “Justiça Restaurativa na Escola”. Residindo nos Estados Unidos, de onde proferiu a palestra virtual, ela explicou que um jeito simples de falar pode modificar muito a relação que temos no ambiente.

“Na maioria das vezes, a gente causa dor e dano quando não quer causar. Em regra, somos bem intencionados”, introduziu. “Minha alegria que esse tipo de conversa esteja ganhando mais espaço em locais como este, um Tribunal. É um espaço que acho real, onde a gente se relaciona, e muitas vezes são coisas muito simples que fazem transformações no espaço de trabalho”, prosseguiu.

Mesmo com as melhores intenções, segundo ela o que geralmente leva ao erro é uma comunicação alienante, na qual a desconexão dificulta o diálogo. “Eu preciso de alguma coisa e falo de alguma forma que dificulta o diálogo, que me desconecta da pessoa. Nessa comunicação, a gente está muito pautado em quem está certo, como se tivesse só um lado certo, e também estamos muito preocupados com o julgamento do outro, em oferecer comparação ou um diagnóstico da situação do outro, ou também fazemos uma escuta desatenta ou enviesada”, detalhou. “O que a comunicação alienante tem é dificuldade em assumir responsabilidade pela maneira como me comunico e a escuta que eu ofereço, e a comunicação não-violenta é o contrário, é a assunção disso”, pontuou.

No contexto do judiciário, que tem seus ritos e formas próprias de comunicação, ela diz que é preciso saber a quem se dirige. “Muitas vezes a linguagem é zero acessível. E eu sempre tenho que me perguntar: quem é o destinatário da minha sentença? Antes de tudo, de advogados, promotores, o destinatário é um jurisdicionado, e se eu preciso que minha mensagem seja compreensível, mesmo que use um jargão para algumas coisas, eu preciso me fazer entender. A que serve a academia ou o judiciário se eles não se comunicam com o seu público?”, provocou.

De acordo com a pesquisadora, o segredo para colocar em prática a comunicação não-violenta começa por estar disposto a enxergar e ouvir o outro. “Muitas vezes é uma mudança de perspectiva, é literalmente mudar as lentes”, assegurou. Para colocar isso em prática, ela sugeriu alguns tipos de reflexões. “A minha sugestão é que, quando estiver perdido, sem saber como agir ou falar, experimente perguntar sobre o estado da pessoa. Como você se sente? Posso ajudar de algum modo? Está precisando de alguma coisa? O que tem te feito bem agora?”, orientou.

Desprender-se de julgamentos e colocar em prática a empatia são bons caminhos a serem adotados. “A gente julga antes de escolher julgar, e normalmente adjetivos carregam julgamentos, como por exemplo bonito e feio, caro e barato… Dê dados mais descritivos do que adjetivos”, exemplificou. “Quanto à empatia, muita gente pensa que é se colocar no lugar do outro, sendo que quando eu estou muito bem eu consigo me colocar no meu lugar, eu não sou capaz de me colocar no lugar de ninguém, nunca. Na melhor das hipóteses, vou ser arrogante. Então empatia não é sofrer junto, não é dar conselho, mas empatia é quando você lembra para a pessoa que ela não está só”.

No ambiente corporativo, essa escuta é ainda mais eficaz em situações cotidianas. “Vejam o exemplo de uma situação em que há distinção entre o que uma chefia quer e o que um grupo de pessoas a ela subordinado quer. A chefia pode tomar a decisão de cima para baixo, o que vai dar uma animosidade tremenda, as pessoas vão trabalhar com má vontade e baixa efetividade. Mesmo que prevaleça a vontade da chefia, ela pode escutar o grupo para saber o que era importante para aquelas pessoas. Assim, a decisão é feita de maneira mais responsável, o grupo vai entender que foi considerado, que alguém se importa. Pertencimento conta muito”, ensinou.

Texto: Esperança Barros
Secom/TJMMG